quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Análise literária Hamlet- Shakespeare


Ação:
A aparição do fantasma armado do falecido rei Hamlet desencadeia em Horácio e príncipe Hamlet a premonição de que algo de mau agouro estava por vir, sendo confirmada esta suspeita logo após o diálogo entre o Fantasma e Hamlet. A descoberta da traição de Cláudio e o pedido do pai por vingança gera em Hamlet um desejo apressado de cumprir o prometido, assim ele passa a agir em prol desta causa, tornando todos os seus pensamentos e vontades direcionados a este fim. Suas intenções em mostrar-se louco ficam mais evidentes a cada ato que pratica, levando-o para mais perto do momento oportuno de se vingar. Após ter surgido no quarto de Ofélia transparecendo estar fora de si, Polônio decide comunicar ao rei o ocorrido, tramando ambos um encontro entre Ofélia e Hamlet para tirar a prova real da causa de sua loucura. Passado o encontro e a rejeição de Hamlet a Ofélia, o Rei decide que irá manda-lo para a Inglaterra, nisto chegam seus dois colegas de Wittenberg e uma trupe de atores. Hamlet frustrado com sua vingança não cumprida, arma junto aos atores uma peça semelhante ao ato traiçoeiro de Cláudio, para, dependendo da reação do rei, comprovar sua culpa e assim tomar uma atitude. Ao assistir a peça, o rei demonstra-se extremamente perturbado e toma consciência de que Hamlet pode lhe ser prejudicial.  Em seguida, Hamlet em uma discussão com Gertrudes, acaba por matar Polônio que estava escondido atrás da tapeçaria. Numa tentativa de livrar-se, Cláudio despacha Hamlet com urgência para a Inglaterra junto a uma carta pedindo que fosse executado assim que chegasse. Descobrindo a tramoia do tio, Hamlet escapa por navios piratas e retorna a Elsinor. 

Tempo:
Em Hamlet o conceito de tempo não está bem definido, pois os acontecimentos se passam de forma rápida e contínua, o que se mostra contrário ao levar em consideração o tempo necessário para a tomada das principais decisões dos personagens. Algumas descrições feitas quanto ao estado em que a Dinamarca se encontrava demonstram um período de guerra que ao desenrolar dos atos indica a passagem de, pelo menos, um ano.




Espaço:
O Espaço em que ocorre a maior parte da obra se passa na Dinamarca, nas redondezas e entranhas do Castelo, além das referências utilizadas para descrever a Noruega, Inglaterra, e até mesmo Roma, feita por Horácio quando liga os acontecimentos na Dinamarca como o mesmo mau presságio que se sucederam a queda de Júlio. O próprio ambiente contrasta com os sentimentos dos personagens, criando significado, por exemplo, na noite em que os guardas presentes na esplanada do castelo, se deparam com o fantasma. A descrição feita por eles, como um lugar de extremo frio, a meia noite, remetem ao medo e a ligação do sobrenatural.

‘’ BERNARDO: Acabou de soar a meia-noite. Vai pra tua cama, Francisco.
FRANCISCO: Muito obrigado por me render agora. Faz um frio mortal – até meu coração está gelado.’’ ( p. 3 Ato I, Cena I).

Muitas das descrições do ambiente observadas na obra demonstram o relacionamento entre a visão do personagem com a realidade, aquilo que é descrito levando em conta seus sentimentos e experiências.

‘’HAMLET: A Dinamarca é uma prisão!
ROSENCRANTZ: Então o mundo também.
HAMLET: Uma enorme prisão, cheia de células, solitárias e masmorras – a Dinamarca é das piores.’’ (p. 40 Ato II, Cena II).

Personagens:

Hamlet:
Filho do falecido rei Hamlet e de Gertrudes, sobrinho de Cláudio, apaixonado por Ofélia e personagem principal. Desde o inicio da tragédia, Hamlet transparece toda sua tristeza e luto pela morte do pai, além da rejeição pelo tio, tanto como por quem é, quanto por ter se casado com sua mãe logo após o funeral. Há um conflito interno no qual o personagem não deixa claro, apesar das atitudes hostis em relação ao tio, e as motivações de vingança regidas pelo amor ao seu pai, também há um sentimento de perda do poder a quem lhe era por direito, além da repulsa pela mãe por entregar-se a este relacionamento incestuoso tão apressadamente e de forma insensata, negligenciando-se em perpetuar o luto pelo rei Hamlet, morto recentemente. Os motivos de sua vingança seriam, portanto, não somente pela memória do pai, mas sim por motivos também pessoais. Esses conflitos são tanto de ordem politica quanto sentimentais.

‘’HAMLET: Pois é; não achas que é meu dever agora – Com esse que matou o meu rei e prostituiu minha mãe; Que se interpôs entre a eleição ao trono e as minhas esperanças; ’’ (p. 106 Ato V, Cena II).

 A criação de uma segunda personalidade em Hamlet para poder efetivar sua vingança demonstra toda sua inteligência e astúcia, mas também demonstra a linha tênue entre a lucidez e a insanidade, tanto é que ao longo da obra se torna difícil identificar os momentos em que Hamlet está fingindo, como por exemplo, quando conversa com si mesmo e revela seus pensamentos suicidas, questões existenciais que o afligem e até mesmo a própria definição de loucura, criticando o contexto da sociedade em que vivia e suas atitudes sem nexo, visível em sua fala:

‘’HAMLET: Não é tão estranho; meu tio agora é rei da Dinamarca, e muitos que faziam caretas pra ele enquanto meu pai era vivo, hoje dão vinte, quarenta, cinqüenta, até cem ducados por um retrato dele em miniatura. Pelo sangue de Deus! Há nisso alguma coisa sobre-natural que a filosofia não consegue explicar. ‘’ (p. 43 Ato II, Cena II).

Devido a esse pedido de vingança por forças maiores, sobrenaturais, Hamlet se sente prisioneiro dos próprios pensamentos, estes agora motivados somente por esta causa. A culpa pela não efetivação da sua vingança o deixa angustiado, até dado momento em que toma consciência de sua covardia, deixando de lado sua passividade. No fim da obra é notável como a morte, os feitos em vida e o fim a que resultam, despertam a curiosidade de Hamlet, mostrando seu caráter introspectivo. Pode ser considerado um personagem redondo por alterar seu comportamento ao longo da peça.

Cláudio:
Irmão do falecido rei Hamlet e assassino do mesmo, rei da Dinamarca. Homem de caráter maldoso, traiçoeiro, falso, uma sombra do irmão a quem possuía tantas virtudes, demonstra durante toda a peça desconfiança mutua para com Hamlet. Movido pela inveja e pelo desejo incestuoso por Gertrudes, utiliza de seu poder de sedução para conseguir o que quer. Apesar de demonstrar culpa pelo assassinato por medo ao julgamento do divino, deixa claro não sentir arrependimento pelo feito, pois fazia proveito dos bens que colheu. Trata-se de um personagem plano, pois desde o início apresenta o mesmo comportamento enganoso e perverso. Personagem Plano.

Polônio:
Conselheiro do rei, pai de Ofélia e Laertes, homem fiel a Deus e ao reino. Pelos conselhos dados na partida de seu filho Laertes a França, é possível identificar um caráter sábio em Polônio, de alguém experiente nos relacionamentos e acontecimentos da vida.
  
‘’ (Põe a mão na cabeça de Laertes.) E trata de guardar estes poucos preceitos: Não dá voz ao que pensares, nem transforma em ação um pensamento tolo. Amistoso, sim, jamais vulgar. Os amigos que tenhas, já postos à prova, Prende-os na tua alma com grampos de aço; Mas não caleja a mão festejando qualquer galinho implume Mal saído do ovo. Procura não entrar em nenhuma briga; Mas, entrando, encurrala o medo no inimigo, Presta ouvido a muitos, tua voz a poucos. Acolhe a opinião de todos – mas você decide. ‘’ (p. 18 Ato I, Cena III).

Polônio é um homem evidentemente preocupado com os filhos, porém infeliz foi seu destino sendo morto por Hamlet ao confundi-lo com o rei Cláudio. Personagem Plano.

Horácio:
 Amigo de Hamlet e acadêmico de Wittenberg, Horácio chega a Elsinor com o intuito de ver os ritos funerais do falecido rei Hamlet, mas acaba prolongando sua estadia pelo apressado casamento de Gertrudes e o rei Cláudio. Horácio se mostra um companheiro fiel, não revelando a verdadeira face de Hamlet por trás da loucura representada, além de auxiliar nos esquemas de vingança. Personagem plano.

Laertes:
Filho de Polônio, hábil esgrimista e irmão de Ofélia, viaja para a França no inicio da trama, retornando a Elsinor assim que recebe notícias da morte do pai. Tomado pela fúria, decide se vingar do assassino, fazendo com que se assemelhe ao espirito de vingança de Hamlet. Apesar de ter sido corrompido pela tramoia de Cláudio e pelo ódio cego, Laertes arrepende-se no desfecho da obra.  Personagem redondo.

Ofélia:
Filha de Polônio, irmã de Laertes. Moça jovem e pura, apaixonada por Hamlet, se vê deprimida ao compreender que o amor dos dois estava além da vontade de ambos, pois Hamlet tinha deveres para com o Estado. Proibida pelo pai de manter contato com o amado e instruída a fazer parte de uma encenação para descobrir a real causa da loucura de Hamlet, Ofélia recebe insultos e a negação de que seu amor era correspondido. Após a notícia da morte do pai, Ofélia enlouquece verdadeiramente, e acaba por suicidar-se num lago. Personagem redondo.

Fortinbrás:
Filho de Fortinbrás, antigo rei da Noruega e sobrinho do atual rei. Jovem determinado a recuperar as terras perdidas pelo pai num combate em que foi morto contra o falecido rei Hamlet da Dinamarca. Personagem plano.

Gertrudes:
Mãe do príncipe Hamlet, viúva do falecido rei Hamlet e esposa do atual rei da Dinamarca.

Diálogos:
Os diálogos, principalmente da parte de Hamlet, são riquíssimos em questões existenciais e filosóficas, mostrando a complexidade dos sentimentos humanos. Com o uso de monólogos, Hamlet consegue chegar ao fundo de sua consciência, expondo a dor profunda que sente pelo falecimento do pai e pela relação incestuosa da mãe com o tio.

‘’Morto há apenas dois meses! Não, nem tanto. Nem dois. Um rei tão excelente. Compará-lo com este É comparar Hipérion, Deus do sol, Com um sátiro lascivo. Tão terno com minha mãe Que não deixava que um vento mais rude lhe roçasse o rosto. Céu e terra! É preciso lembrar?’’. (p. 12 Ato I, Cena II).

Seus pensamentos suicidas entram em conflito com o sobrenatural, questionando-se a respeito da morte e o desconhecido que viria a seguir.

‘’HAMLET: Oh, que esta carne tão, tão maculada, derretesse, Explodisse e se evaporasse em neblina! Oh, se o Todo-Poderoso não tivesse gravado Um mandamento contra os que se suicidam.’’ (p. 12 Ato I, Cena II).

Outra característica notável é a de persuasão de Hamlet nos diálogos para convencer a todos de que está realmente louco, fora de si, mas deixando transparecer sua real astúcia por trás do disfarce.

‘’HAMLET: Calúnias, meu amigo. O cínico sem-vergonha diz aqui que os velhos têm barba grisalha e pele enrugada; que os olhos dele purgam goma de âmbar e resina de ameixa; que não possuem nem sombra de juízo; e que têm bunda mole! É claro, meu senhor, que embora tudo isso seja verdadeiro, e eu acredite piamente em tudo, não aprovo nem acho decente pôr isso no papel. Pois o senhor mesmo ficaria tão velho quanto eu se, como o caranguejo, se pusesse a avançar de trás pra frente.’’ (p. 39 Ato II, Cena II).

Hamlet vê seu destino sendo conduzido por forças sobrenaturais, levantando questionamentos sobre até que ponto suas vontades teriam poder para guiá-lo ao futuro desejado, concluindo assim que o homem é prisioneiro dos próprios pensamentos. Para ele, o mundo, o homem, toda a criação, não lhe interessam mais nem lhe trazem alegria. 
‘’HAMLET: Oh, Deus, eu poderia viver recluso numa casca de noz e me achar o rei do espaço infinito se não tivesse maus sonhos.’’ (p. 40 Ato II, Cena II).

Em relação aos diálogos de polônio para com o filho Laertes, há grandes ensinamentos, lições de moral, mostrando como era sábio nas questões relacionadas ao social e a vida. 

‘’(Põe a mão na cabeça de Laertes.) E trata de guardar estes poucos preceitos: Não dá voz ao que pensares, nem transforma em ação um pensamento tolo. Amistoso, sim, jamais vulgar. Os amigos que tenhas, já postos à prova, Prende-os na tua alma com grampos de aço; Mas não caleja a mão festejando qualquer galinho implume Mal saído do ovo. Procura não entrar em nenhuma briga; Mas, entrando, encurrala o medo no inimigo, Presta ouvido a muitos, tua voz a poucos. Acolhe a opinião de todos – mas você decide. Usa roupas tão caras quanto tua bolsa permitir, Mas nada de extravagâncias – ricas, mas não pomposas. O hábito revela o homem, E, na França, as pessoas de poder ou posição Se mostram distintas e generosas pelas roupas que vestem. Não empreste nem peça emprestado: Quem empresta perde o amigo e o dinheiro; Quem pede emprestado já perdeu o controle de sua economia. E, sobretudo, isto: sê fiel a ti mesmo. Jamais serás falso pra ninguém  Adeus. Que minha bênção faça estes conselhos frutificarem em ti.’’ (p.18 Ato I, Cena III).

Rubricas:
Na obra Hamlet, as rubricas estão presentes em vários momentos, determinando a vontade do autor a respeito da encenação do ator, o espaço em que a cena acontece, entonações, etc. No primeiro Ato, nas Cenas I e II, é perceptível as rubricas pela descrição do cenário onde encontram-se os guardas, as atitudes do Fantasma e em que estado se encontram os ambientes. 
‘’Elsinor – Terraço diante do castelo. (Francisco está de sentinela. Bernardo entra e vai até ele.)’’ (p. 3 Ato I, Cena I). 

‘’Mas calma agora! Olhem: ele está aí de novo! (O Fantasma entra.) Vou barrar o caminho, mesmo que me fulmine. (Ao Fantasma.) Pára, ilusão! (O Fantasma abre os braços.)’’ (p. 7 Ato I, Cena I).

‘’ (O galo canta.) Fala! Pára e fala! Cerca ele aí, Marcelo!’’ (p. 7 Ato I, Cena I).
‘’ (À Rainha.) Venha, senhora, O consentimento nobre e espontâneo de Hamlet Traz um sorriso a meu coração e, em louvor disso, O rei não erguerá hoje um único brinde Sem que o grande canhão o anuncie às nuvens, Pra que as nuvens, ecoando a saudação real, Reproduzam, no céu, a alegria terrestre. Venham todos. (Fanfarras. Saem todos, menos Hamlet.)’’ (p. 12 Ato I, Cena II).

Pode-se considerar também como rubrica a própria descrição de Hamlet à seus trajes e modos de agir.
‘’Não é apenas o meu manto negro, boa mãe, Minhas roupas usuais de luto fechado, Nem os profundos suspiros, a respiração ofegante. Não, nem o rio de lágrimas que desce de meus olhos, Ou a expressão abatida do meu rosto, Junto com todas as formas, vestígios e exibições de dor, Que podem demonstrar minha verdade.’’ (p. 11 Ato I, Cena II).
Ato II e III, gestos e referências de estado dos atores, descrição do ambiente.

‘’POLÔNIO: (Apontando pra cabeça e ombros.) Separe isto, disto, Se for de outra maneira; Se as circunstâncias me ajudarem, Eu acharei a verdade, Mesmo que esteja escondida no centro da terra.’’ (p. 38 Ato II, Cena II).

‘’POLÔNIO: Saiam, por favor, me deixem só com ele. Vou falar com ele agora. Oh, eu suplico. (Saem o Rei, a Rainha e o séquito. Entra Hamlet, livro na mão.)’’ (p. 38 Ato II, Cena II). 

‘’HAMLET: Eles chegam pro espetáculo. Devo fazer o louco. Escolhe um bom lugar. (Marcha dinamarquesa. Fanfarra. Entram o Rei, a Rainha, Polônio, Ofélia, Rosencrantz, Guildenstern e outros Cortesãos, com a guarda carregando tochas.)’’ (p. 57 Ato III, Cena II).

Apesar das rubricas estarem presentes em toda a obra Hamlet, um exemplo que se faz mais presente está na própria metalinguagem utilizada para descrever a cena em que o teatro ocorre dentro da própria peça.

‘’ HAMLET: Tanto assim? Então, se o diabo ainda se veste de negro, eu usarei luto de luxo. Céus! Morto há dois meses e ainda não foi esquecido? Então há esperança de que a memória de um grande homem possa sobreviver a ele até uns seis meses. Mas, por Nossa Senhora, terá que construir catedrais ou sofrerá a punição do esquecimento, como o cavalo-de-pau cujo epitáfio vai ser: “Ói! Ói! Esqueceram da égua!” (Soam oboés. Começa a pantomina. Entram um Rei e uma Rainha, muito amorosos; os dois se abraçam. Ela se ajoelha e faz demonstrações de devoção a ele. Ele se levanta do chão e inclina a cabeça no ombro dela. Ele se deita num canteiro de flores. Ela, vendo-o dormir, se afasta, sai. Imediatamente surge um homem, tira a coroa do rei, derrama o veneno no ouvido dele. Sai, beijando a coroa. A Rainha volta; encontra o Rei morto, faz apaixonadas demonstrações de dor. O Envenenador volta, acompanhado de dois ou três comparsas, e mostra-se condoído com a morte do Rei; acompanha a Rainha em suas demonstrações. O cadáver é levado embora. O Envenenador corteja a Rainha com presentes. Ela mostra alguma relutância; recusa os presentes por uns momentos, por fim aceita as provas de amor. Saem.)’’ (p. 58 Ato III, Cena II).
Ato IV e V
‘’RAINHA: Há um salgueiro que cresce inclinado no riacho Refletindo suas folhas de prata no espelho das águas; Ela foi até lá com estranhas grinaldas De botões-de-ouro, urtigas, margaridas, E compridas orquídeas encarnadas, Que nossas castas donzelas chamam dedos de defuntos, E a que os pastores, vulgares, dão nome mais grosseiro. Quando ela tentava subir nos galhos inclinados, Para aí pendurar as coroas de flores, Um ramo invejoso se quebrou; Ela e seus troféus floridos, ambos, Despencaram juntos no arroio soluçante.’’(p. 94-95 Ato IV, Cena VII).

‘’PRIMEIRO COVEIRO: (Canta.) Uma picareta e uma pá, uma pá E também uma mortalha Cova de argila cavada Pra enterrar a gentalha. (Desenterra outro crânio.)’’ (p. 98 Ato V, Cena I).

‘’(Marcha fúnebre. Saem, levando os corpos; depois do que se ouvem salvas de artilharia.)’’ (p. 116 Ato V, Cena II).

Conflito dramático:
No início da obra, o rei Hamlet já é tido como morto por uma picada de cobra enquanto dormia nos jardins reais, porém seu fantasma trajado em armadura passa a vagar pelas redondezas do castelo da Dinamarca durante a noite. Tendo presenciado essa aparição, Horácio decide contar ao amigo Hamlet o ocorrido, e ambos fariam guarda na noite que estava prestes a chegar, a fim de falar com o fantasma. Ele aparece e convida Hamlet a segui-lo, contando como ocorreu sua morte verdadeiramente, fruto da traição do próprio irmão Cláudio que, almejando seu reino e sua rainha Gertrudes, derramou pelos ouvidos do falecido rei, enquanto dormia, um liquido mortal. A pedido do fantasma do pai, Hamlet inicia seus planos para vingar-se, desencadeando uma série de acontecimentos envolvendo todos a seu redor.

Reconhecimento:
O primeiro reconhecimento se dá quando Hamlet e o Fantasma se encontram. Horácio recebe a notícia de que o espectro do falecido rei Hamlet anda a circular pelas esplanadas do castelo durante a meia noite. Notando o mau presságio que este acontecimento trazia, Horácio decide contar ao príncipe Hamlet o ocorrido, este que decide fazer guarda na noite que estava prestes a chegar para comprovar a visão do amigo. O fantasma enfim aparece, convidando Hamlet a se juntar a ele para terem uma conversa em particular, contando assim os acontecimentos que antecederam sua morte, esta atuada pelo próprio irmão que, de posse de um veneno, derramou sobre os ouvidos do rei a dormir em seu jardim, o liquido mortal. Tendo conhecido os motivos a que levaram o tio a agir de tal maneira, tais como a inveja e o desejo proibido por Gertrudes, Hamlet promete ao espectro do pai que o vingaria, transformando a si mesmo e sua vida a esse propósito.
Com a chegada dos atores a Elsinor, Hamlet sente-se passivo em relação à vingança prometida ao pai falecido, decidindo assim a tomar alguma atitude que provasse a real traição cometida pelo tio. Surge a ideia de junto aos atores, desenvolver uma peça chamada a ‘’Ratoeira’’, cujo objetivo era despertar o sentimento de culpa em Cláudio, fazendo-o por meio de expressões e atitudes tornar visível e convincente a Hamlet o atentado contra a vida do falecido rei. Essa peça tratava-se de uma encenação de como Cláudio teria concretizado sua traição, além de uma demonstração de como a rainha deveria agir, pela concepção de Hamlet, caso fosse confrontada com a ideia da morte do marido e a substituição do mesmo por outro homem. Como esperado, o rei revela tamanho espanto ao ver a cena de morte do rei e pede para que acendam as luzes, encerrando a peça e confirmando sua culpa. É neste momento que Cláudio e Hamlet se veem confrontados, pois, Cláudio agora está a par da consciência do sobrinho em relação ao seu ato traiçoeiro, e Hamlet tem sua confirmação, deixando-o preparado para vingar-se.

Desenlace:
Após Hamlet ser despachado para a Inglaterra a pedido de seu tio Cláudio que estava a temer sua loucura e seu conhecimento dos acontecidos, o mesmo descobre, movido a intuição, uma carta onde o rei pedia sua execução quando chegasse ao destino. Por meio de navios piratas, Hamlet consegue retornar a Elsinor, onde depara-se com Ofélia morta e seu irmão Laertes tomado pela fúria, convencido por Cláudio de que Hamlet deveria ser executado por suas mãos num combate, para assim Laertes vingar-se pela morte de Polônio. Caso Laertes falhasse, o próprio rei daria cabo de envenenar o sobrinho, acabando assim com seu temor de ser descoberto. Laertes havia envenenado seu próprio florete antes de iniciar-se o combate, tornando assim qualquer golpe mortal a Hamlet. Durante a luta, a rainha acaba por tomar do cálice de Hamlet, o qual havia sido envenenado pelo próprio rei. Num ato de violência, as espadas acabam sendo trocadas, e ambos são tocados pelo veneno. É no fim de sua vida que Gertrudes percebe o ninho de traições pelo qual foi submetida. Laertes, prestes a morrer, revela a culpa pelo esquema criado por Cláudio, fazendo com que Hamlet fira o rei com a mesma lâmina que iminentemente o mataria. Cumprida assim sua promessa de vingança, Hamlet morre deixando a cargo de Horácio que revele a verdadeira identidade de tais acontecimentos.



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