A
aparição do fantasma armado do falecido rei Hamlet desencadeia em Horácio e
príncipe Hamlet a premonição de que algo de mau agouro estava por vir, sendo
confirmada esta suspeita logo após o diálogo entre o Fantasma e Hamlet. A
descoberta da traição de Cláudio e o pedido do pai por vingança gera em Hamlet
um desejo apressado de cumprir o prometido, assim ele passa a agir em prol
desta causa, tornando todos os seus pensamentos e vontades direcionados a este
fim. Suas intenções em mostrar-se louco ficam mais evidentes a cada ato que
pratica, levando-o para mais perto do momento oportuno de se vingar. Após ter
surgido no quarto de Ofélia transparecendo estar fora de si, Polônio decide
comunicar ao rei o ocorrido, tramando ambos um encontro entre Ofélia e Hamlet
para tirar a prova real da causa de sua loucura. Passado o encontro e a
rejeição de Hamlet a Ofélia, o Rei decide que irá manda-lo para a Inglaterra,
nisto chegam seus dois colegas de Wittenberg e uma trupe de atores. Hamlet
frustrado com sua vingança não cumprida, arma junto aos atores uma peça
semelhante ao ato traiçoeiro de Cláudio, para, dependendo da reação do rei,
comprovar sua culpa e assim tomar uma atitude. Ao assistir a peça, o rei
demonstra-se extremamente perturbado e toma consciência de que Hamlet pode lhe
ser prejudicial. Em seguida, Hamlet em
uma discussão com Gertrudes, acaba por matar Polônio que estava escondido atrás
da tapeçaria. Numa tentativa de livrar-se, Cláudio despacha Hamlet com urgência
para a Inglaterra junto a uma carta pedindo que fosse executado assim que
chegasse. Descobrindo a tramoia do tio, Hamlet escapa por navios piratas e
retorna a Elsinor.
Tempo:
Em
Hamlet o conceito de tempo não está
bem definido, pois os acontecimentos se passam de forma rápida e contínua, o que
se mostra contrário ao levar em consideração o tempo necessário para a tomada
das principais decisões dos personagens. Algumas descrições feitas quanto ao
estado em que a Dinamarca se encontrava demonstram um período de guerra que ao
desenrolar dos atos indica a passagem de, pelo menos, um ano.
Espaço:
O
Espaço em que ocorre a maior parte da obra se passa na Dinamarca, nas
redondezas e entranhas do Castelo, além das referências utilizadas para
descrever a Noruega, Inglaterra, e até mesmo Roma, feita por Horácio quando
liga os acontecimentos na Dinamarca como o mesmo mau presságio que se sucederam
a queda de Júlio. O próprio ambiente contrasta com os sentimentos dos
personagens, criando significado, por exemplo, na noite em que os guardas
presentes na esplanada do castelo, se deparam com o fantasma. A descrição feita
por eles, como um lugar de extremo frio, a meia noite, remetem ao medo e a
ligação do sobrenatural.
‘’ BERNARDO: Acabou de soar a meia-noite. Vai pra tua cama, Francisco.
FRANCISCO: Muito obrigado por me
render agora. Faz um frio mortal – até meu coração está gelado.’’ ( p. 3 Ato I,
Cena I).
Muitas
das descrições do ambiente observadas na obra demonstram o relacionamento entre
a visão do personagem com a realidade, aquilo que é descrito levando em conta
seus sentimentos e experiências.
‘’HAMLET: A Dinamarca é uma
prisão!
ROSENCRANTZ: Então o mundo
também.
HAMLET: Uma enorme prisão, cheia
de células, solitárias e masmorras – a Dinamarca é das piores.’’ (p. 40 Ato II,
Cena II).
Personagens:
Hamlet:
Filho
do falecido rei Hamlet e de Gertrudes, sobrinho de Cláudio, apaixonado por
Ofélia e personagem principal. Desde o inicio da tragédia, Hamlet transparece
toda sua tristeza e luto pela morte do pai, além da rejeição pelo tio, tanto
como por quem é, quanto por ter se casado com sua mãe logo após o funeral. Há
um conflito interno no qual o personagem não deixa claro, apesar das atitudes
hostis em relação ao tio, e as motivações de vingança regidas pelo amor ao seu
pai, também há um sentimento de perda do poder a quem lhe era por direito, além
da repulsa pela mãe por entregar-se a este relacionamento incestuoso tão
apressadamente e de forma insensata, negligenciando-se em perpetuar o luto pelo
rei Hamlet, morto recentemente. Os motivos de sua vingança seriam, portanto,
não somente pela memória do pai, mas sim por motivos também pessoais. Esses
conflitos são tanto de ordem politica quanto sentimentais.
‘’HAMLET: Pois é; não achas que é
meu dever agora – Com esse que matou o meu rei e prostituiu minha mãe; Que se
interpôs entre a eleição ao trono e as minhas esperanças; ’’ (p. 106 Ato V,
Cena II).
A criação de uma segunda personalidade em
Hamlet para poder efetivar sua vingança demonstra toda sua inteligência e
astúcia, mas também demonstra a linha tênue entre a lucidez e a insanidade, tanto
é que ao longo da obra se torna difícil identificar os momentos em que Hamlet
está fingindo, como por exemplo, quando conversa com si mesmo e revela seus
pensamentos suicidas, questões existenciais que o afligem e até mesmo a própria
definição de loucura, criticando o contexto da sociedade em que vivia e suas
atitudes sem nexo, visível em sua fala:
‘’HAMLET: Não é tão estranho; meu
tio agora é rei da Dinamarca, e muitos que faziam caretas pra ele enquanto meu
pai era vivo, hoje dão vinte, quarenta, cinqüenta, até cem ducados por um
retrato dele em miniatura. Pelo sangue de Deus! Há nisso alguma coisa
sobre-natural que a filosofia não consegue explicar. ‘’ (p. 43 Ato II, Cena
II).
Devido
a esse pedido de vingança por forças maiores, sobrenaturais, Hamlet se sente
prisioneiro dos próprios pensamentos, estes agora motivados somente por esta
causa. A culpa pela não efetivação da sua vingança o deixa angustiado, até dado
momento em que toma consciência de sua covardia, deixando de lado sua
passividade. No fim da obra é notável como a morte, os feitos em vida e o fim a
que resultam, despertam a curiosidade de Hamlet, mostrando seu caráter
introspectivo. Pode ser considerado um personagem redondo por alterar seu
comportamento ao longo da peça.
Cláudio:
Irmão
do falecido rei Hamlet e assassino do mesmo, rei da Dinamarca. Homem de caráter
maldoso, traiçoeiro, falso, uma sombra do irmão a quem possuía tantas virtudes,
demonstra durante toda a peça desconfiança mutua para com Hamlet. Movido pela
inveja e pelo desejo incestuoso por Gertrudes, utiliza de seu poder de sedução
para conseguir o que quer. Apesar de demonstrar culpa pelo assassinato por medo
ao julgamento do divino, deixa claro não sentir arrependimento pelo feito, pois
fazia proveito dos bens que colheu. Trata-se de um personagem plano, pois desde
o início apresenta o mesmo comportamento enganoso e perverso. Personagem Plano.
Polônio:
Conselheiro
do rei, pai de Ofélia e Laertes, homem fiel a Deus e ao reino. Pelos conselhos
dados na partida de seu filho Laertes a França, é possível identificar um
caráter sábio em Polônio, de alguém experiente nos relacionamentos e
acontecimentos da vida.
‘’ (Põe a
mão na cabeça de Laertes.) E trata de guardar estes poucos preceitos: Não dá
voz ao que pensares, nem transforma em ação um pensamento tolo. Amistoso, sim,
jamais vulgar. Os amigos que tenhas, já postos à prova, Prende-os na tua alma
com grampos de aço; Mas não caleja a mão festejando qualquer galinho implume
Mal saído do ovo. Procura não entrar em nenhuma briga; Mas, entrando, encurrala
o medo no inimigo, Presta ouvido a muitos, tua voz a poucos. Acolhe a opinião
de todos – mas você decide. ‘’ (p. 18 Ato I, Cena III).
Polônio
é um homem evidentemente preocupado com os filhos, porém infeliz foi seu
destino sendo morto por Hamlet ao confundi-lo com o rei Cláudio. Personagem
Plano.
Horácio:
Amigo de Hamlet e acadêmico de Wittenberg,
Horácio chega a Elsinor com o intuito de ver os ritos funerais do falecido rei
Hamlet, mas acaba prolongando sua estadia pelo apressado casamento de Gertrudes
e o rei Cláudio. Horácio se mostra um companheiro fiel, não revelando a
verdadeira face de Hamlet por trás da loucura representada, além de auxiliar
nos esquemas de vingança. Personagem plano.
Laertes:
Filho
de Polônio, hábil esgrimista e irmão de Ofélia, viaja para a França no inicio
da trama, retornando a Elsinor assim que recebe notícias da morte do pai.
Tomado pela fúria, decide se vingar do assassino, fazendo com que se assemelhe
ao espirito de vingança de Hamlet. Apesar de ter sido corrompido pela tramoia
de Cláudio e pelo ódio cego, Laertes arrepende-se no desfecho da obra. Personagem redondo.
Ofélia:
Filha
de Polônio, irmã de Laertes. Moça jovem e pura, apaixonada por Hamlet, se vê
deprimida ao compreender que o amor dos dois estava além da vontade de ambos,
pois Hamlet tinha deveres para com o Estado. Proibida pelo pai de manter
contato com o amado e instruída a fazer parte de uma encenação para descobrir a
real causa da loucura de Hamlet, Ofélia recebe insultos e a negação de que seu
amor era correspondido. Após a notícia da morte do pai, Ofélia enlouquece
verdadeiramente, e acaba por suicidar-se num lago. Personagem redondo.
Fortinbrás:
Filho
de Fortinbrás, antigo rei da Noruega e sobrinho do atual rei. Jovem determinado
a recuperar as terras perdidas pelo pai num combate em que foi morto contra o
falecido rei Hamlet da Dinamarca. Personagem plano.
Gertrudes:
Mãe
do príncipe Hamlet, viúva do falecido rei Hamlet e esposa do atual rei da
Dinamarca.
Diálogos:
Os
diálogos, principalmente da parte de Hamlet, são riquíssimos em questões
existenciais e filosóficas, mostrando a complexidade dos sentimentos humanos.
Com o uso de monólogos, Hamlet consegue chegar ao fundo de sua consciência,
expondo a dor profunda que sente pelo falecimento do pai e pela relação
incestuosa da mãe com o tio.
‘’Morto há apenas dois meses!
Não, nem tanto. Nem dois. Um rei tão excelente. Compará-lo com este É comparar
Hipérion, Deus do sol, Com um sátiro lascivo. Tão terno com minha mãe Que não deixava
que um vento mais rude lhe roçasse o rosto. Céu e terra! É preciso lembrar?’’.
(p. 12 Ato I, Cena II).
Seus
pensamentos suicidas entram em conflito com o sobrenatural, questionando-se a
respeito da morte e o desconhecido que viria a seguir.
‘’HAMLET: Oh, que esta carne tão,
tão maculada, derretesse, Explodisse e se evaporasse em neblina! Oh, se o
Todo-Poderoso não tivesse gravado Um mandamento contra os que se suicidam.’’
(p. 12 Ato I, Cena II).
Outra
característica notável é a de persuasão de Hamlet nos diálogos para convencer a
todos de que está realmente louco, fora de si, mas deixando transparecer sua
real astúcia por trás do disfarce.
‘’HAMLET: Calúnias, meu amigo. O
cínico sem-vergonha diz aqui que os velhos têm barba grisalha e pele enrugada;
que os olhos dele purgam goma de âmbar e resina de ameixa; que não possuem nem
sombra de juízo; e que têm bunda mole! É claro, meu senhor, que embora tudo
isso seja verdadeiro, e eu acredite piamente em tudo, não aprovo nem acho
decente pôr isso no papel. Pois o senhor mesmo ficaria tão velho quanto eu se,
como o caranguejo, se pusesse a avançar de trás pra frente.’’ (p. 39 Ato II,
Cena II).
Hamlet
vê seu destino sendo conduzido por forças sobrenaturais, levantando
questionamentos sobre até que ponto suas vontades teriam poder para guiá-lo ao
futuro desejado, concluindo assim que o homem é prisioneiro dos próprios
pensamentos. Para ele, o mundo, o homem, toda a criação, não lhe interessam
mais nem lhe trazem alegria.
‘’HAMLET: Oh, Deus, eu poderia viver
recluso numa casca de noz e me achar o rei do espaço infinito se não tivesse
maus sonhos.’’ (p. 40 Ato II, Cena II).
Em
relação aos diálogos de polônio para com o filho Laertes, há grandes
ensinamentos, lições de moral, mostrando como era sábio nas questões
relacionadas ao social e a vida.
‘’(Põe a mão na cabeça de
Laertes.) E trata de guardar estes poucos preceitos: Não dá voz ao que
pensares, nem transforma em ação um pensamento tolo. Amistoso, sim, jamais
vulgar. Os amigos que tenhas, já postos à prova, Prende-os na tua alma com
grampos de aço; Mas não caleja a mão festejando qualquer galinho implume Mal
saído do ovo. Procura não entrar em nenhuma briga; Mas, entrando, encurrala o
medo no inimigo, Presta ouvido a muitos, tua voz a poucos. Acolhe a opinião de
todos – mas você decide. Usa roupas tão caras quanto tua bolsa permitir, Mas
nada de extravagâncias – ricas, mas não pomposas. O hábito revela o homem, E,
na França, as pessoas de poder ou posição Se mostram distintas e generosas
pelas roupas que vestem. Não empreste nem peça emprestado: Quem empresta perde
o amigo e o dinheiro; Quem pede emprestado já perdeu o controle de sua
economia. E, sobretudo, isto: sê fiel a ti mesmo. Jamais serás falso pra
ninguém Adeus. Que minha bênção faça
estes conselhos frutificarem em ti.’’ (p.18 Ato I, Cena III).
Rubricas:
Na
obra Hamlet, as rubricas estão
presentes em vários momentos, determinando a vontade do autor a respeito da
encenação do ator, o espaço em que a cena acontece, entonações, etc. No
primeiro Ato, nas Cenas I e II, é perceptível as rubricas pela descrição do
cenário onde encontram-se os guardas, as atitudes do Fantasma e em que estado
se encontram os ambientes.
‘’Elsinor – Terraço diante do
castelo. (Francisco está de sentinela. Bernardo entra e vai até ele.)’’ (p. 3
Ato I, Cena I).
‘’Mas calma agora! Olhem: ele
está aí de novo! (O Fantasma entra.) Vou barrar o caminho, mesmo que me
fulmine. (Ao Fantasma.) Pára, ilusão! (O Fantasma abre os braços.)’’ (p. 7 Ato
I, Cena I).
‘’ (O galo canta.) Fala! Pára e
fala! Cerca ele aí, Marcelo!’’ (p. 7 Ato I, Cena I).
‘’ (À Rainha.) Venha, senhora, O
consentimento nobre e espontâneo de Hamlet Traz um sorriso a meu coração e, em
louvor disso, O rei não erguerá hoje um único brinde Sem que o grande canhão o
anuncie às nuvens, Pra que as nuvens, ecoando a saudação real, Reproduzam, no
céu, a alegria terrestre. Venham todos. (Fanfarras. Saem todos, menos Hamlet.)’’
(p. 12 Ato I, Cena II).
Pode-se
considerar também como rubrica a própria descrição de Hamlet à seus trajes e
modos de agir.
‘’Não é apenas o
meu manto negro, boa mãe, Minhas roupas usuais de luto fechado, Nem os
profundos suspiros, a respiração ofegante. Não, nem o rio de lágrimas que desce
de meus olhos, Ou a expressão abatida do meu rosto, Junto com todas as formas,
vestígios e exibições de dor, Que podem demonstrar minha verdade.’’ (p. 11 Ato
I, Cena II).
Ato
II e III, gestos e referências de estado dos atores, descrição do ambiente.
‘’POLÔNIO: (Apontando pra cabeça
e ombros.) Separe isto, disto, Se for de outra maneira; Se as circunstâncias me
ajudarem, Eu acharei a verdade, Mesmo que esteja escondida no centro da terra.’’
(p. 38 Ato II, Cena II).
‘’POLÔNIO: Saiam, por favor, me
deixem só com ele. Vou falar com ele agora. Oh, eu suplico. (Saem o Rei, a
Rainha e o séquito. Entra Hamlet, livro na mão.)’’ (p. 38 Ato II, Cena
II).
‘’HAMLET: Eles chegam pro
espetáculo. Devo fazer o louco. Escolhe um bom lugar. (Marcha dinamarquesa.
Fanfarra. Entram o Rei, a Rainha, Polônio, Ofélia, Rosencrantz, Guildenstern e
outros Cortesãos, com a guarda carregando tochas.)’’ (p. 57 Ato III, Cena II).
Apesar
das rubricas estarem presentes em toda a obra Hamlet, um exemplo que se faz mais presente está na própria
metalinguagem utilizada para descrever a cena em que o teatro ocorre dentro da
própria peça.
‘’ HAMLET: Tanto assim? Então, se
o diabo ainda se veste de negro, eu usarei luto de luxo. Céus! Morto há dois
meses e ainda não foi esquecido? Então há esperança de que a memória de um
grande homem possa sobreviver a ele até uns seis meses. Mas, por Nossa Senhora,
terá que construir catedrais ou sofrerá a punição do esquecimento, como o
cavalo-de-pau cujo epitáfio vai ser: “Ói! Ói! Esqueceram da égua!” (Soam oboés.
Começa a pantomina. Entram um Rei e uma Rainha, muito amorosos; os dois se
abraçam. Ela se ajoelha e faz demonstrações de devoção a ele. Ele se levanta do
chão e inclina a cabeça no ombro dela. Ele se deita num canteiro de flores.
Ela, vendo-o dormir, se afasta, sai. Imediatamente surge um homem, tira a coroa
do rei, derrama o veneno no ouvido dele. Sai, beijando a coroa. A Rainha volta;
encontra o Rei morto, faz apaixonadas demonstrações de dor. O Envenenador
volta, acompanhado de dois ou três comparsas, e mostra-se condoído com a morte do
Rei; acompanha a Rainha em suas demonstrações. O cadáver é levado embora. O
Envenenador corteja a Rainha com presentes. Ela mostra alguma relutância;
recusa os presentes por uns momentos, por fim aceita as provas de amor. Saem.)’’
(p. 58 Ato III, Cena II).
Ato
IV e V
‘’RAINHA: Há um salgueiro que
cresce inclinado no riacho Refletindo suas folhas de prata no espelho das
águas; Ela foi até lá com estranhas grinaldas De botões-de-ouro, urtigas,
margaridas, E compridas orquídeas encarnadas, Que nossas castas donzelas chamam
dedos de defuntos, E a que os pastores, vulgares, dão nome mais grosseiro.
Quando ela tentava subir nos galhos inclinados, Para aí pendurar as coroas de
flores, Um ramo invejoso se quebrou; Ela e seus troféus floridos, ambos,
Despencaram juntos no arroio soluçante.’’(p. 94-95 Ato IV, Cena VII).
‘’PRIMEIRO COVEIRO: (Canta.) Uma
picareta e uma pá, uma pá E também uma mortalha Cova de argila cavada Pra
enterrar a gentalha. (Desenterra outro crânio.)’’ (p. 98 Ato V, Cena I).
‘’(Marcha fúnebre. Saem, levando
os corpos; depois do que se ouvem salvas de artilharia.)’’ (p. 116 Ato V, Cena
II).
Conflito dramático:
No
início da obra, o rei Hamlet já é tido como morto por uma picada de cobra
enquanto dormia nos jardins reais, porém seu fantasma trajado em armadura passa
a vagar pelas redondezas do castelo da Dinamarca durante a noite. Tendo
presenciado essa aparição, Horácio decide contar ao amigo Hamlet o ocorrido, e
ambos fariam guarda na noite que estava prestes a chegar, a fim de falar com o
fantasma. Ele aparece e convida Hamlet a segui-lo, contando como ocorreu sua
morte verdadeiramente, fruto da traição do próprio irmão Cláudio que, almejando
seu reino e sua rainha Gertrudes, derramou pelos ouvidos do falecido rei, enquanto
dormia, um liquido mortal. A pedido do fantasma do pai, Hamlet inicia seus
planos para vingar-se, desencadeando uma série de acontecimentos envolvendo
todos a seu redor.
Reconhecimento:
O
primeiro reconhecimento se dá quando Hamlet e o Fantasma se encontram. Horácio
recebe a notícia de que o espectro do falecido rei Hamlet anda a circular pelas
esplanadas do castelo durante a meia noite. Notando o mau presságio que este
acontecimento trazia, Horácio decide contar ao príncipe Hamlet o ocorrido, este
que decide fazer guarda na noite que estava prestes a chegar para comprovar a
visão do amigo. O fantasma enfim aparece, convidando Hamlet a se juntar a ele
para terem uma conversa em particular, contando assim os acontecimentos que
antecederam sua morte, esta atuada pelo próprio irmão que, de posse de um
veneno, derramou sobre os ouvidos do rei a dormir em seu jardim, o liquido
mortal. Tendo conhecido os motivos a que levaram o tio a agir de tal maneira,
tais como a inveja e o desejo proibido por Gertrudes, Hamlet promete ao
espectro do pai que o vingaria, transformando a si mesmo e sua vida a esse
propósito.
Com
a chegada dos atores a Elsinor, Hamlet sente-se passivo em relação à vingança
prometida ao pai falecido, decidindo assim a tomar alguma atitude que provasse
a real traição cometida pelo tio. Surge a ideia de junto aos atores,
desenvolver uma peça chamada a ‘’Ratoeira’’, cujo objetivo era despertar o
sentimento de culpa em Cláudio, fazendo-o por meio de expressões e atitudes
tornar visível e convincente a Hamlet o atentado contra a vida do falecido rei.
Essa peça tratava-se de uma encenação de como Cláudio teria concretizado sua
traição, além de uma demonstração de como a rainha deveria agir, pela concepção
de Hamlet, caso fosse confrontada com a ideia da morte do marido e a
substituição do mesmo por outro homem. Como esperado, o rei revela tamanho
espanto ao ver a cena de morte do rei e pede para que acendam as luzes,
encerrando a peça e confirmando sua culpa. É neste momento que Cláudio e Hamlet
se veem confrontados, pois, Cláudio agora está a par da consciência do sobrinho
em relação ao seu ato traiçoeiro, e Hamlet tem sua confirmação, deixando-o
preparado para vingar-se.
Desenlace:
Após
Hamlet ser despachado para a Inglaterra a pedido de seu tio Cláudio que estava
a temer sua loucura e seu conhecimento dos acontecidos, o mesmo descobre,
movido a intuição, uma carta onde o rei pedia sua execução quando chegasse ao
destino. Por meio de navios piratas, Hamlet consegue retornar a Elsinor, onde
depara-se com Ofélia morta e seu irmão Laertes tomado pela fúria, convencido
por Cláudio de que Hamlet deveria ser executado por suas mãos num combate, para
assim Laertes vingar-se pela morte de Polônio. Caso Laertes falhasse, o próprio
rei daria cabo de envenenar o sobrinho, acabando assim com seu temor de ser
descoberto. Laertes havia envenenado seu próprio florete antes de iniciar-se o
combate, tornando assim qualquer golpe mortal a Hamlet. Durante a luta, a
rainha acaba por tomar do cálice de Hamlet, o qual havia sido envenenado pelo
próprio rei. Num ato de violência, as espadas acabam sendo trocadas, e ambos
são tocados pelo veneno. É no fim de sua vida que Gertrudes percebe o ninho de
traições pelo qual foi submetida. Laertes, prestes a morrer, revela a culpa
pelo esquema criado por Cláudio, fazendo com que Hamlet fira o rei com a mesma
lâmina que iminentemente o mataria. Cumprida assim sua promessa de vingança,
Hamlet morre deixando a cargo de Horácio que revele a verdadeira identidade de
tais acontecimentos.
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