Tratando-se de uma obra do Realismo e outra do Romantismo,
pretendo neste texto comparar a personagem Emma Bovary e Marguerite Gautier. Em
A Dama das Camélias, Marguerite apresenta-se como uma cortesã da qual levava
uma vida desmedida em luxo e excessos. Ao conhecer Armand, apaixona-se
verdadeiramente, afastando-se do antigo modo luxuoso e desregrado de viver para
ir morar com Armand no campo. Porém, devido a circunstâncias sociais e a pedido
do pai de Armand, Marguerite renuncia a seu amor em prol do bem amado, para que
este não sofra a seu lado as consequências que esta relação traria, garantindo
assim a oportunidade a Armand de não gerar conflitos familiares e sociais por
envolver-se com uma cortesã. Desta forma, Marguerite purifica-se, tornando-se
um ser honrado, como por exemplo, o herói clássico, pois coloca os próprios
sentimentos em ordem a fim de agir corretamente, livrando-se dos pecados
cometidos anteriormente como cortesã, pois amou verdadeiramente. Além disso, há de se considerar esta renuncia
ao amor algo a mais do que simples desejo do bem amado, mas sim um desejo
oculto de tornar-se e ver-se uma cortesã ‘’honrada’’ e ‘’pura’’ perante a
sociedade.
Já em Madame Bovary, há espaço para duas interpretações da
personagem, por um lado um comportamento inconformista em relação a sua classe
social e por outro um comportamento ambicioso e conformista. Ao casar-se com
Charles, Emma encontrava-se entusiasmada pelo marido médico e a posição social
em que ascenderia, encontrando às emoções e experiências possíveis à classe
burguesa. Porém, Emma se depara com uma vida monótona, distante do luxo e das paixões
que imaginara ao ler seus livros enquanto vivia no campo. Inconformada, Emma
comete adultério e consumismos, levando-a a depressão e por fim, a morte.
Representando assim, um ideal de inconformismo, além de afirmar Emma como
sujeita aos interesses sociais. Partindo do ponto de vista que Emma teria sido
ambiciosa e conformista, ter-se casado com Charles, médico que, embora
medíocre, era apaixonado pela esposa e as suas vontades buscava satisfazer, faz
de Emma um ser egoísta e interesseiro, na qual o status de médico fizera nascerem
seus sentimentos por Charles, além da oportunidade de sair do campo para
frequentar locais e encontros burgueses. Na medida em que Emma se decepcionava
e se entediava com a nova vida, buscou meio de saciar seus anseios, o que a
levou a morte, justamente pela não realização destes.
Portanto, Marguerite tratar-se-ia de um personagem sujeito as
condições sociais, visto que seu amor por Armand não triunfa sobre essas
condições, além de ser considerada um herói romântico por seus atos nobres ao
final do enredo. Enquanto Emma tratar-se ia de um personagem ambicioso e
egoísta que, ao mesmo tempo em que é idealizadora perante a condição social do
marido, também demonstra ser inconformada com a condição social em que se
encontrava anteriormente. Revelando dois aspectos possíveis a personagem, a de
inconformada e/ou a de interesseira conformada.
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