-Já o sol trinta voltas perfeitas tinha dado Sobre o verde da terra e o mar salgado Trinta dúzias de luas usando luz alheia Tinham doze vezes trinta sido lua cheia Desde que o amor uniu você e eu Pelos laços sagrados do Himeneu.
-O sol e a lua darão mil voltas assim Antes que o
nosso amor um dia tenha fim. Mas que infeliz eu sou!, tens estado tão mal, Tão
longe de tua alegria habitual, Que eu temo por ti. Mas não tema esse temor; As
mulheres são assim, no medo e no amor, Nelas os dois vivem sempre irmanados E,
ou não são nada, ou são extremados. O meu amor, tu sabes, não pode ser maior, E
quando o amor é grande, o medo não é menor. Num amor tão enorme qualquer dúvida
assusta Pequenos medos crescem; e o amor, à sua custa.
-Eu devo te deixar e muito em breve Mas o fim da
existência me é mais leve Sabendo você, quando eu tiver partido, Amada e
honrada; e com outro marido Tão terno quanto...
-Não, eu não aceito! Um outro amor não cabe no meu
peito. É maldição ter novo companheiro; Só tem o segundo quem mata o
primeiro.
- A razão que leva a um outro casamento Não é
amor, é razão vil – o rendimento. Será matar meu marido de outro jeito Deixar
novo marido me beijar no leito.
- Você crê no que diz, mas sejamos serenos, É
comum falarmos mais e fazermos menos; A intenção é apenas escrava da memória,
Violenta ao nascer, mas transitória; Enquanto fruto verde só nos dá trabalho, E
assim que madura cai do galho. É muito natural que nunca nos lembremos De pagar
a nós, o que nós nos devemos; O que a nós na paixão foi por nós prometido
Terminada a paixão perde todo o sentido. O sangue quente da dor e da alegria Já
trazem consigo a própria hemorragia; Onde a alegria mais canta e a dor mais
deplora, Num instante a dor canta e a alegria chora. O mundo não é eterno e tudo
tem um prazo Nossas vontades mudam nas viradas do acaso; Pois esta é uma
questão ainda não resolvida: A vida faz o amor, ou este faz a vida? Se o
poderoso cai, somem até favoritos; Se o pobre sobe surgem amigos irrestritos. E
até aqui o amor segue a Fortuna, eu digo; A quem não precisa nunca falta um
amigo. Mas quem, precisado, prova um falso amigo Descobre, oculto nele, um
inimigo antigo. Voltando ao começo de tudo que converso – Desejos e fatos
correm em sentido inverso. Por isso nossos planos nunca atingem a meta, O
pensamento é nosso, não o que projeta. Assim, tu crês que não terás outro
marido; Uma crença que morre quando eu tiver morrido.
-A terra não me dê pão, nem luz o céu! Repouso e
paz me fujam – eu só tenha fel! A fé e a esperança se transformem em desdita Eu
só tenha de meu um catre de eremita! Cada revés que bater na face da alegria
Destrua, ao passar, tudo o que eu mais queria! Que uma eterna angústia me cosa
e me recosa Se, uma vez viúva, for outra vez esposa!
-Um juramento solene. Dileta, me deixa agora. Meu
espírito pesa; quero enganar com o sono O tédio desta hora. (Dorme.)
-Que o sono embale a tua alma: Nunca haja amargura
entre nós, Só calma.
Trecho/ Hamlet- Shakespeare
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